sexta-feira, 27 de maio de 2016

Rumi - Seja quem me pôs nesta rota, à minha casa deve levar-me de volta.

Por todo o dia medito, e apenas à noite eu digo:
De onde venho, e o que supostamente feito eu tenho?
Nem ideia ao menos
Minha alma é de alhures, isto é um fato,
Desejo, e para aquele destino eu parto.

Tal vertigem principiou-se noutra taverna.
E quando para aquele lugar retornar,
Sóbrio eu haverei de estar. Mas enquanto, 
Eu, pássaro, canto d'outro continente, pouso aqui por instante.
O dia chegará, e deverei partir,
Mas quem é este agora no meu ouvido a ouvir?
Quem é na minha boca a se exprimir?

Quem olha pelos meus olhos? E a alma, pois, o que é?
A pergunta, ela continua de pé.
Se um pouco eu pudesse saber,
Desse antro de ébrios a saída hei de ter.
Aqui por pedido não cheguei, nem por isso assim partirei.
Seja quem me pôs nesta rota, à minha casa deve levar-me de volta.

Este poema. Nem sei como o digo por certo.
Certo é que eu não o projeto.
Mas quando fora deste dizido eu me encontro,
Quieto fico, dificilmente eu falo ou conto.

Extraído de:
RUMI. The essential Rumi. Tradução de Coleman Barks e John Moyne. New Jersey: Castle Books, 1997, p. 2.

Encontrei apenas uma tradução em português a qual agradeço o tradutor considerando que ela me foi bastante útil. Abaixo o link para quem quiser cotejar com o original e a tradução. 

http://devotionlovers.blogspot.com.br/2011/06/rumi-whoever-brought-me-here-will-have.html

domingo, 15 de novembro de 2015

Le tourbillon de la vie - Jeanne Moreau

Ela, para cada dedo tinha um anel 
E braceletes ao redor dos pulsos
Depois cantava com uma voz 
Que, logo, me enfeitiçava

Ela tinha olhos, olhos de opala,

Olhos que me fascinavam, olhos
Tinham a sinuosidade de sua pálida face
De mulher fatal que me foi fatal
De mulher fatal que me foi fatal

Nos conhecemos, nos reencontramos

De vista nos perdemos, nos perdemos
Nos reencontramos, nos aquecemos,
E depois nos separamos.

Cada um por si, partimos

No turbilhão da vida
Cheguei a vê-la uma vez, ai!
Foi há muito tempo
Foi há muito tempo

Ao som dos banjos a reecontrei

O estranho sorriso que tanto me agradara
Sua voz tão fatal, sua face pálida e linda
Me comoveram como tal.

Embriguei-me sob aquele som

O álcool pode apagar o tempo
Ao sentí-la, sonhei
Com beijos sobre minha fronte febril
Com beijos sobre minha fronte febril

Nos conhecemos, nos reencontramos

De vista nos perdemos, nos perdemos
Nos reencontramos, nos separamos,
E depois nos aquecemos.

Cada um por si, partiu

No turbilhão da vida
Cheguei a vê-la uma vez, ai!
Ela caiu nos meus braços!
Ela caiu nos meus braços!

Quando nos encontramos

Quando nos reencontramos,
Por que nos perdemos de vista
Nos perdemos de novo?

Quando nos rencontramos,

Quando nos aquecemos,
Por que nos separarmos?

Então os dois partiram

No turbilhão desta vida
Continuávamos a rodar
Ambos abraçados,
Ambos enlaçados.

domingo, 28 de junho de 2015

Os furos do meu nascer - Henri Michaux*

Quito, 25 de abril


Um vento pavoroso vem.
No meu peito há um singelo furo,
É por ele que esse vento vem,
Miúda cidade de Quito, não és para mim.
Falta me o ódio, a inveja, é a minha sanidade.
Uma grande cidade é que me falta.
Um grandioso banquete de inveja.

É apenas um singelo furo no meu peito,
Mas é nele que tal vento vem,
Nesse furo inveja tem (sempre), impotência e medo há também,
Há impotência e nela o vento adensa,
Forte como são os turbilhões
Partiria o aço de uma agulha,
E é apenas um vazio, um vento. 
Maldição sobre toda terra, sobre a civilização, sobre todos os seres na superfície de todos os planetas, por causa desse vazio!
Disse, esse senhor o crítico, que não é ódio o que tenho.
Vazio, é o que lhe oponho.
Ah! Como se encontra terrível em minha pele!
Preciso chorar tendo em vista o valioso pão, a dominação, e o amor, o pão da glória muito além afora,
Preciso observar pelo vidro da janela,
Tão vazio quanto eu, que nada se vê.
Disse chorar: não, é uma fria perfuração, que fura, perfura, incassavelmente,
Em uma viga de faia de centenárias gerações de versos que deixaram tal herança: "Fure...Perfure."
Encontra-se à esquerda, mas não é o coração.
Buraco, eu disse, nada mais que isso, é raiva e nada posso.
Sete ou oito sentidos tenho. Um deles: o que falta.
Eu o toco e o apalpo como se dá o toque ao bosque.
Mas este como uma grande floresta, daquelas que na Europa não se encontra mais.
E é a minha vida, pelo vazio a vida minha.
Se ele sumisse, esse vazio, me procuro, me extasio e pior ainda.
Me edifiquei sobre uma coluna ausente**.
O que teria dito Cristo se ele assim também tivesse sido feito?
Há essas doenças, se as interrompemos, ao homem nada sobra,
Ao invés ele morre, tarde demais.
Uma mulher poderia se contentar com o ódio?
Se assim for, então me ame, me ame em excesso e me diga,
Escrevam-me, qualquer uma de vocês.
Porém o que é o que é, esse mísero ser?
Não o compreenderia por muito tempo.
Nem duas pernas nem um grande coração o meu vazio ocupariam.
Nem os olhos cheios da Inglaterra ou do sonho como se diz.
Nem uma voz lírica que se diga plena e quente.

Os arrepios sempre acham em mim o frio já pronto.
Meu vazio é insaciável, triturante, aniquilador supremo.
Meu vazio é estofo e silêncio.
Silêncio que a tudo faz parar.
É silêncio estelar.
Embora é profundo o furo, ele é sem fôrma.
As palavras não o encontram,
Ao seu redor, rebuliçam.
Sempre admirei aqueles que se creem que de revolução, pois, se sentiriam como irmãos.
Falam uns dos outros emocionados: fluídos como um caldo.
Isto não é ódio, meus amigos, isto, é gelatina.
O ódio é sempre duro,
Esbagaça aos outros,
No entanto desbasta os seus ao interior sem cessar.
O outro lado do ódio.
E é lugar de cura. Lugar.


*Poema presente no livro Ecuador de 1929. Segue o link para o texto original:
http://www.florilege.free.fr/florilege/michaux/jesuisne.htm

Como sempre, trata-se de uma tradução amadora. Pode haver alguns erros ou reparos a serem corrigidos. De alguns erros ou equívocos estou ciente. O próprio título original, por exemplo, Je suis né troué deveria ser traduzido por Eu nasci furado. Mas como prova de livre intervenção, "poder do tradutor", preferi o título que encabeça a postagem. Geralmente procuro cotejar minhas traduções em outros idiomas quando possíveis, mormente, o espanhol, inglês ou italiano. Porém, esse texto não consegui em outra língua e o fiz diretamente do francês - o que pode aumentar ainda mais a possibilidade de erros. De qualquer forma, tive de fazê-lo. 

**Provavelmente o verso mais famoso desse poema, inclusive utilizado por Claude Lefort como título em um de seus livros. Agradeço também à Aline P. S. por ter ajudado neste verso em específico chamando atenção para certos equívocos cometidos por mim. 

domingo, 29 de dezembro de 2013

Blue Bayou - Roy Orbison

Mal me sinto, preocupações que tenho
Sozinho me vejo a todo momento
Desde que abandonei meu amor no Curso Azul
Guardo trocos, guardo moedas, trabalho até o entardecer
Procurando à frente melhores dias no Curso Azul

Um dia voltarei, seja o que for no Curso Azul
Onde você dorme sem fim e até o peixe dança no Curso Azul
Todos aqueles barquinhos de velas à boiar - se apenas pudesse ver
A alvorada minha com olhos preguiçosos - que felicidades por ter

Parto para rever meu bem
E alguns amigos por perto também
Talvez assim eu seria feliz no Curso Azul

Um dia retornarei, para ficar no Curso Azul
Onde as pessoas são boas e o mundo é meu no Curso Azul
Oh, e minha garota do meu lado - a maré noturna sob o luar prateado
Oh, os bons dias tomarão o lugar dessa angústia no peito
E feliz pra sempre, meus sonhos serão reais no Curso Azul.

Letra original: http://www.royorbison.com/blue-bayou/
Sobre a música (em inglês): http://en.wikipedia.org/wiki/Blue_Bayou
Sobre a palavra "Bayou" (em inglês): http://en.wikipedia.org/wiki/Bayou

A questão é e continua sendo: traduzir ou não traduzir "Blue Bayou"? Como a proposta minha aqui desde o início foi arriscar traduções diferentes das encontradas pela internet, decidi arriscar uma expressão que, se não passa o sentido original ou mesmo geológico do tipo de lugar, acena para um imagem aproximada. 



domingo, 21 de julho de 2013

Two of Us - The Beatles

Nós, vagando sem rumo
Gastando o suado dinheiro de alguém
Você e eu dirigindo, no domingo
Não alcançando
Nosso caminho de volta pro lar
Estamos indo pra casa
No caminho de casa
Nós - voltando pro lar.

Dois de nós mandando lembranças
Ensaiando cartas
Nos meus murais
Eu e você jogando luz
Quebrando as travas
No caminho de casa
Estamos indo pra casa
No caminho de casa
Nós - voltando pro lar.

Você e eu temos memórias tão mais
longas
do que a própria estrada que segue à nossa frente.

Nós dois com capas de chuva
Tão baixos
Abaixo do sol
Você e eu registrando contratos
Conseguindo coisa alguma
No nosso caminho de casa
Estamos indo pra casa
No caminho de casa
Nós - voltando pro lar.

Estamos de partida
Melhor não duvidar!

Letra original: http://www.thebeatles.com/#/songs/Two_Of_Us3

Observações: há um vasto material sobre essa música na internet. Abaixo cito os principais, ou melhor, os que achei mais rapidamente.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Two_of_Us

http://www.icce.rug.nl/~soundscapes/DATABASES/AWP/tou.shtml

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Le métèque - Georges Moustaki

Com minha cara de estrangeiro
De judeu errante e pastor grego
E meu cabelo aos vendavais

Com os meus olhos tão sem cor
Que me dão um ar de sonhador
Eu que nem meus sonhos tenho mais

Com minhas mãos de assaltante
De músico ou mesmo de errante
Que tem pilhado mil jardins

Com essa boca que bebeu
Que já beijou e que mordeu
E ainda com fomes tão sem fins

Com minha cara de estrangeiro
De judeu errante e pastor grego
De vagabundo e de ladrão

Com minha pele tão riscada
Pelo sol da mais quente temporada
E por todas aquelas que de saia estão

Com meu coração que fez
Sofrer e sofreu por sua vez
Porem sem ter criado confusão

Com minha alma que perdeu
A pequena sorte do adeus
Pra evitar a expiação

Com minha cara de estrangeiro
De judeu errante e pastor grego
E meu cabelo aos vendavais

Eu chegarei, doce cativa
Minha alma gêmea, fonte viva
E beberei teus vinte anos temporais

Serei um chefe de verdade
Sonhador ou bom de mocidade
E você decidirá o que terei de ser

E faremos de cada dia que chegar
Toda uma eternidade pra amar
E viveremos nela até morrer

E faremos de cada dia que chegar
Toda uma eternidade pra amar
E viveremos nela até morrer.

Letra Original: http://www.creatweb.com/moustaki/paroles/lemeteque.htm

Observações: nessa tradução, primei em parte, na hora de decidir mais pela rima do que propriamente por uma tradução literal, daí, ter mudado ou invertido algumas palavras nos versos, no intento de buscar a sonoridade em português assim como a sonoridade da canção no francês. Para apoio, consultei uma tradução em espanhol que se encontra no seguinte link: http://delnadir.wordpress.com/2008/04/23/le-meteque-georges-moustaki/ 

Além disso, qualquer sugestão é bem vinda, como nessa ou em outras traduções, isto é, digo para aqueles que raramente possam vir aqui ou os que entram em rota de colisão com esse site.

domingo, 17 de junho de 2012

Terrapin - Syd Barret

Quando digo te amo, é você mesma
Mesmo sobre ti a estrela, de azul cristal
Querida, meus cabelos arrepiam-se por ti

Mesmo que não a visse, ainda assim, te amaria
Passasse ao longe, mesmo sobre, ou longe
Só de te ver me arrepiaria 'inda até o extremo

Boiado, machucado, quase mordo o nariz
Nadadeiras luminosas
Um palhaço todo em presas
É escuro o lugar debaixo das pedras
Sobre elas, raios solares nos bem-aventuram

Assim somos tal qual os peixes n'água
Nadando um nada em lugar algum
Meu bem, já sabes bem que me arrepio
Em presença sua.

Album: The Madcap Laughs (1970)

Letra original: disponível no link do comentário


Terrapin é o nome de um determinado tipo de tartaruga que vive na água doce, nesse fórum sobre canções http://www.songmeanings.net/songs/view/3458764513820562218/ Ganjastar nos dá uma boa explicação o porque do suposto título, que seria devido ao tempo vagaroso da música.

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